Onde foi parar o tempo que ganhamos...

Havia mais terrenos baldios. E menos canais de televisão. Leite vinha num saco. Ou então o leiteiro entregava em casa, em garrafas de vidro.

Cozinhava-se com banha de porco. Toda dona-de-casa tinha uma lata de banha debaixo da pia.
O barbeador era de metal, e a lâmina era trocada de vez em quando. Mas só a lâmina.
As casas tinham quintais. Os quintais tinham sempre uma laranjeira, ou uma pereira, ou um pessegueiro.
Comíamos fruta no pé. 
Minha vó tinha fogão à lenha. E compotas caseiras abarrotando a despensa. E chimia de abóbora, e uvada, e pão de casa.
O café passava pelo coador de pano. As ruas cheiravam a café.
As lojas de discos vendiam long plays e fitas K7.
Supimpa era ter um três-em-um: toca-disco, toca-fita e rádio AM (não havia FM).
Os telefones tinham disco. Discava-se para alguém. Depois, punha-se o aparelho no gancho. Telefone tinha gancho. E fio.

Se o seu filho estivesse no quarto dele e você no seu escritório, você dava um berro pra chamar o guri, em vez de mandar um e-mail ou um recado pelo MSN.

Tudo era mais demorado, mais difícil, mais trabalhoso.

Então, por que hoje “engolimos” o almoço? 
Então, por que estamos sempre atrasados?
Então, por que ninguém mais bota cadeiras na calçada?

Alguém pode me explicar onde foi parar o tempo que ganhamos?